
Psicóloga Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicoterapia, Psicologia do Trabalho Social e das Organizações e Coaching Psicológico, Psicóloga Coach e Counsellor, EuroPsy Psychologist
O que são?
A afetividade é um sector fundamental de toda a vida psicológica humana, acompanhando-nos as emoções desde que nascemos.
As emoções e os sentimentos são o regente primordial da ação do Homem tanto internamente – repercutindo-se na vivência própria de cada individuo e influenciando o seu mundo psicológico -, como externamente, sendo muitas vezes observáveis e traduzindo-se em comportamentos.
O sistema emocional é um sistema que funciona e é regulado no cérebro, e à semelhança da temperatura e de outras atividades do nosso corpo, a capacidade de sentirmos emoções e a sua intensidade são também controladas neste órgão. Nesse sentido, tal como outras dimensões da natureza humana, também esta pode ser disfuncional e desadaptativa.
Todos nós sentimos mudanças de humor. Umas vezes estamos contentes, sentimo-nos felizes e confiantes com o mundo que nos rodeia. Outras, a tristeza ou o desânimo podem surgir e o mundo parece pesado e sem graça, podendo estes diferentes sentimentos ser vividos no espaço de um dia, sem que este aspeto seja patológico e interfira de forma desadequada na nossa vida. Por vezes estes sentimentos de tristeza depois de um acontecimento de vida específico (habitualmente negativo e ou incómodo), têm a duração de alguns dias e atenuam-se num espaço de tempo.
No entanto, quando estas mudanças de humor ocorrem de uma forma extrema e repetida, interferindo no normal funcionamento e alterando grandemente a nossa forma de estar, sentir e pensar, as alterações podem ser de tal forma significativas e as consequências gravosas para o nosso bem-estar psicológico e físico, que tanto nós como as pessoas mais próximas, sentimos que algo significativo pode não estar bem. Nessas situações podemos estar perante uma Perturbação de Humor (PH)
Quais os sintomas físicos?
As PH constituem um conjunto de entidade clínicas que afetam diversas áreas da vida do indivíduo (profissional, familiar, social) e que tendem a ser recorrentes, podendo a ocorrência dos episódios individuais, estar frequentemente relacionada com situações ou factos stressantes. Destas fazem parte as Perturbações Depressivas, as Perturbações Bipolares e duas perturbações basadas na etiologia: Perturbação de Humor devida a um Estado Físico Geral e Perturbação de Humor Induzida por Substancias.
As primeiras referem-se a Episódios Depressivos Major, à Perturbação Depressiva Major e às Perturbação Distímica ou Perturbação Depressiva sem outra Especificação. As Perturbações Bipolares podem corresponder a Perturbação Bipolar I, Perturbação Bipolar II, Perturbação Ciclotímica e Perturbação Bipolar sem outra Especificação, diferenciando-se estas das Perturbações Depressivas, pela presença ou história de episódio(s) Maníacos, Mistos ou Hipomaníacos
É característica das PH corresponderem a perturbações cujo traço dominante é uma perturbação sustentada do humor ou afeto. Basicamente, o humor pode estar afetado de duas formas e apresentar: uma elevação anormal do humor acompanhada de mudanças comportamentais – mania – ou um humor “baixo”, como na depressão. Desta característica, decorre que o seu diagnóstico seja sobretudo feito com base na presença ou ausência de certos episódios de humor e sintomas ou sinais. No caso da depressão por exemplo, nem sempre existe um acontecimento associado aos sintomas que se mantêm no tempo com intensidade progressiva, interferindo no dia-a-dia e provocando grande sofrimento e preocupação para o próprio e para os que o rodeiam.
Não se classifica como PH a alteração de humor decorrente de outras doenças ou medicamentos. Nesse caso, será sobretudo um sintoma.
Qual a Prevalência?
As PH atingem mais de 20% da população em algum momento de suas vidas, estimando-se segundo a OMS que atualmente, 340 milhões de pessoas sofram com algum transtorno de humor, sendo a ocorrência mais comum e grave nos países em desenvolvimento, em que a PH mais a comum é depressão, sendo a depressão classificada pela OMS como o maior contribuinte da incapacidade para a atividade produtiva; Em Portugal, a Depressão é também uma das problemáticas com maior incidência, estando especialmente relacionada com os suicídios ocorridos.
Mulheres, adolescentes, idosos e doentes crônicos são os mais afetados pelas PH, dependendo no entanto, a sua caracterização, do número de casos na população de um local, das particularidades sociodemográficas e do tipo e gravidade das enfermidades associadas, assim como dos critérios e definições usados na investigação.
Nos Estados Unidos da América os dados apontam para que aproximadamente 1,2% da população sofra de algum tipo destas perturbações, sendo as Perturbações Depressiva e Bipolar mais prevalecente nas mulheres do que nos homens, estimando-se pelos casos de depressão com acompanhamento hospitalar, que a incidência seja de 2 a 30 por cada 100 000 habitantes. Nestes pais a prevalência das PH está correlacionada com a idade de manifestação, registando-se crianças e adolescente sofrendo das mesmas, embora com sintomas e sinais frequentemente diferentes do adulto. Neste contexto, as perturbações bipolares, tendem a revelar-se cedo.
As PH, nomeadamente a depressão major estão frequentemente associadas a outras doenças, destacando-se os pacientes com dor crônica, distúrbios na tireoide, diabetes, doentes pós Acidentes Cardiovasculares e Vasculares Cerebrais, doentes com patologias renais e portadores de doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson.
Existem outras classificações de transtornos de humor usadas popularmente como: Depressão pós-parto (atinge 15-30% das mães e pode também atingir os pais); Depressão sazonal (causada por invernos severos); Depressão atípica (aumento de fome, sono e intensidade das reações); Depressão catatônica (depressão com forte prejuízo na capacidade de movimentação);Ciclotimia (humor variando entre depressivo e eufórico em algumas horas).
Como têm Início?
Atendendo às investigações atuais, afastou-se a ideia uni-causal da etiologia das PH, considerando-se que o indivíduo pode nascer com uma pré-disposição genética para as PH e que stressores psicológicos e distúrbios bio fisiológicos podem precipitar a doença afetiva, tanto em termos de mania como de depressão.
Fatores Genéticos, Psicológicos e Sociais
Os fatores genéticos têm uma forte influência no aparecimento das PH, sabendo-se que estas têm uma maior incidência entre pais, filhos e irmãos (nomeadamente gémeos monozigóticos), apontando alguns estudos para que a ocorrência de alcoolismo e de sociopatias, seja também maior nas famílias com estas problemáticas
Os fatores psicológicos têm também um papel importante na génese das PH, sobretudo nas perturbações depressivas, considerando-se nomeadamente que as mudanças ocorridas na depressão são em muito dependentes de perdas de autoestima. São também entendidos como possíveis precipitantes da depressão, a perda ou falha em obter amor, o experienciar comportamentos ou sentimentos que podem fazer com que o sujeito se sinta culpado ou sem valor, a dificuldade ou incapacidade em atingir metas realistas ou irrealistas, assim como a separação do objeto amado (tanto na infância/adolescência como na idade adulta)
Os fatores sociais têm também influência na manifestação da depressão, estando esta correlacionada com eventos como ser-se pai/mãe solteiro/a, desemprego, reforma antecipada, mobilidade condicionada e ausência de relações intimas.
São também apontados como causas:
Personalidade neurótica; Alterações hormonais durante a gestação; Drogas estimulantes do sistema nervoso central; Drogas depressoras do sistema nervoso central; Frustrações e ansiedade intensas e recorrentes; Lesões cerebrais; Neurotoxinas.
Em suma, considera-se que na etiologia das PH interagem fatores de várias ordens.
Como se tratam?
As PH, nomeadamente as Depressões e Perturbações Bipolares, são altamente lesivas e incapacitantes para o indivíduo e afetam-no a nível social, físico e psicológico. Na medida em que são também uma fonte de custos sociais, deve-se apostar cada vez mais na investigação e desenvolvimento no que concerne a diagnósticos mais precisos e rápidos e a tratamentos mais ajustados e eficazes.
É necessário esclarecer que estes transtornos não têm nada a ver com a força de cada um, nem o seu tratamento depende apenas da vontade do doente. Trata-se de doenças dependentes do cérebro, que geralmente acarretam consequências graves para o doente, dividem famílias e podem levar ao suicídio. Em relação à Perturbação Bipolar, por exemplo, sabe-se que os pacientes apresentam pequenas alterações em regiões chave do cérebro que são responsáveis pela regulação das emoções, não se sabendo ainda porquê. O ideal seria tornar possível a realização de despistes fisiológicos possibilitando o diagnóstico destas perturbações, como acontece com outras doenças, permitindo que o tratamento seja mais célere e eficaz.
Há um consenso crescente de que, para obter uma resposta ótima no tratamento das PH (especialmente na Perturbação Bipolar), é necessária a adoção de um tratamento em que se conjuguem múltiplos fármacos (prescritos pelo psiquiatra ou médico de família) e psicoterapia (tanto em adultos, como em crianças e adolescentes); A psicoterapia e a psico-educação realizada na mesma (individual /grupal e familiar) têm um papel relevante no fornecimento de informações favorecedoras da adesão à terapêutica e da deteção dos sintomas de descompensação tanto por parte do paciente como da família, nomeadamente.
Fonte:
DEPRESSÃO E OUTRAS PERTURBAÇÕES MENTAIS COMUNS – www.dgs.pt;
AS PERTURBAÇÕES AFECTIVAS: AS PERTURBAÇÕES BIPOLARES – Laura P. Meireles; Manuela L. Cameirão – www.psicologia.com.pt